Quem somos

A Associação de Produtores Orgânicos de São Mateus usa seu nome fantasia, “Associação de Agricultores da Zona Leste”, para agregar agricultores da região é o principal instrumento de apoio mútuo entre agricultores, com associados em Guaianases, Cidade Tiradentes e São Miguel Paulista, além de São Mateus.

Representa hoje 14 hortas, com cerca de 40 agricultores trabalhando. A AAZL presta assistência técnica agroecológica por meio de projetos e promove parcerias para comercialização além das feiras do Parque do Carmo e do SESC Itaquera. Individualmente, duas agricultoras já comercializam seus produtos em outras feiras orgânicas da cidade.

Histórico

Em 2002 discutia-se o Plano Diretor Municipal e a bióloga Vandineide Cardoso Ribeiro dos Santos, funcionária da Subprefeitura de São Mateus, ficou encarregada de fazer um dos levantamentos para elaboração do mapa da rede hídrica e estrutural da região. Ela e sua equipe participaram de diversos encontros com os moradores do lugar para fazer pesquisas e entender demandas e acabaram descobrindo dezenas de agricultores que plantavam em baixo de fios de alta-tensão, chácaras e beiras de córrego. “Verificamos que a cultura rural estava ali, preservada por famílias que vieram do interior de São Paulo, do Paraná e do Nordeste e que tinham o hábito do plantio, da troca e do uso de plantas medicinais”, conta ela.

Motivada pela preservação ambiental inerente à agricultura orgânica e pelo enorme potencial de geração de renda e desenvolvimento que a atividade poderia dar para os moradores, Vandineide e um grupo de servidores encarregados dos levantamentos dos outros aspectos territoriais da Subprefeitura começaram a mapear estes agricultores e encontrar formas de motivá-los a plantar com o intuito de vender, e não somente trocar ou dar, pois eles ainda não viam naquela prática uma forma de trabalho remunerado.

A agricultura urbana foi então vista como uma possibilidade de geração de trabalho e renda compatível com as condições ambientais da região, onde os levantamentos efetuados para a elaboração do mapa do plano diretor regional mostraram grande quantidade de nascentes ainda em estado natural, protegidas por manchas de vegetação de Mata Atlântica compondo cinco sub-bacias hidrográficas formadoras da cabeceira do Rio Aricanduva.

Nesta mesma época, discutia-se a lei da Agricultura Urbana e Periurbana e posteriormente a sua regulamentação, e Vandineide e a equipe responsável pela elaboração e implementação do Plano Diretor Regional de São Mateus participaram ativamente do processo, contribuindo para garantir um papel das subprefeituras e de outras secretarias no processo, fomentando a agricultura local como fator de desenvolvimento através da cessão de áreas públicas para plantio e orientação técnica aos agricultores. “Essa lei foi muito importante para a criação da Associação, senão eu não teria nenhuma justificativa para batalhar por isso dentro da subprefeitura”, explica.

No caso do casal de agricultores Dona Sebastiana e Seu Genival, por exemplo, foi encontrada uma área em baixo da torre da Eletropaulo. “Lá já existia o seu Antônio plantando há 15 anos o que nos motivou muito, pois vendia seus produtos na porta, educou os filhos naquela horta, que era a única fonte de renda dele, e acreditava muito no que fazia”, lembra.

Em 2005, a Subprefeitura de São Mateus inicia o Projeto “Dias de Campo”, através da agora lei “PROAURP (Programa de Agricultura Urbana e Periurbana do Município de São Paulo)” com o objetivo de combater a fome, promover a geração de emprego, renda, inclusão social, incentivar a produção para o autoconsumo, venda direta do produtor, associativismo, agroecoturismo, aproveitamento das áreas vazias viáveis à produção agrícola, resgate e valorização da cultura local.

Uma vez por mês os agricultores se encontravam nas áreas de cultivo para conversar sobre alguns temas, propiciando aquisição de conhecimento com o objetivo de desenvolver os agricultores da região nas competências que os tornem agentes de seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento local, além de contribuir para conservar os recursos naturais, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental e sustentabilidade urbana em uma áreas carentes de cobertura verde.

A ideia principal do projeto era promover a agricultura familiar e a substituição de defensivos químicos pelo controle natural. O grupo, sonhado pela assessoria técnica de gestão ambiental da Subprefeitura de São Mateus, começa a se fortalecer com a participação em reuniões, seminários e adquire identidade. Em 2009, o sonho se realiza e nasce a Associação de Produtores Orgânicos de São Mateus (APO-SM), com a importante missão de proteger os mananciais da região.

O processo contou com o apoio técnico da Subprefeitura, que buscou a consultoria do SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para capacitação e orientação nas formas instituídas de associativismo e também após decisão dos agricultores, capacitação técnica para criação da associação. As mulheres aprenderam a fazer compotas e conservas com o excedente da produção e todos começaram a entender que era importante comercializar. Também participaram de seminários, foram para Campinas conhecer as tecnologias envolvidas na produção agrícola, ver pesquisadores, entender o que era uma planta clonada, conhecer a pesquisadora Ana Maria Primavesi e até participaram de uma feira internacional de agricultura que aconteceu em São Paulo. Também entraram em contato com outros agricultores que estavam mais organizados e começaram a se interessar pela venda de cestas. Alguns meses depois, estavam vendendo para os próprios funcionários da subprefeitura de São Mateus.

Tempos depois, a Associação conseguiu, via PROAURP (Programa Municipal de Agricultura Urbana), comercializar na Feira do Parque do Carmo. Para tanto, foi levantada uma importante discussão sobre a diferença entre eles e os feirantes e a necessidade de apoiá-los dentro de um contexto de política pública e de fomento a novos agricultores, que cultivam no contexto urbano.

Como são pequenas as áreas de cultivo, se produz muitas hortaliças por ter ciclo curto e propiciar rápida renovação dos canteiros. No entanto, nas feiras e em contato com os consumidores nas hortas, surge a necessidade de ampliar a produção diversificando os cultivos, bem como ampliar a associação e desenvolver outras parcerias e continuar fornecendo alimentos saudáveis e de qualidade para a população.

Nos últimos anos, a parceria com Instituto Kairós com o e o incentivo da Casa da Agricultura Ecológica, equipamento da prefeitura, temos conseguido avançar, com muitos desafios pela frente. Estamos para conquistar uma OCS, que esperamos esteja lançada até a época deste congresso. Também temos 4 agricultores certificados com o diploma de “transição agroecológica”, pois não se encaixavam no perfil da OCS.

Um grande desafio para agregar mais agricultores e garantir a transição agroecológica para toda a região é o acesso a insumos, principalmente a compostagem, que já foi praticada pela prefeitura e hoje está paralisada. A compostagem feita nos terrenos ainda é insuficiente e o espaço é pequeno para o estoque de insumos agrícolas.

Outro desafio é o acesso às terras. Muitos nos procuram com o intuito de começar a plantar, mas a política de concessão de faixas de linhão está sob revisão e ainda não há definição de como continuará.

A assistência técnica é também uma grande demanda, a maneira como avançamos nesse ponto foi o projeto Agricultura Sustentável na Zona Leste e a parceria com a CAE, cada um com um agrônomo para assistência. No entanto, é ainda preciso desenvolver mão de obra especializada na implantação de canteiros, orientação aos agricultores e uso de maquinário como tobata e trator para limpeza dos terrenos sempre cheios de entulho em seu início.

Para intensificar a produtividade dos canteiros, temos buscado técnicas agroflorestais que propõe consórcios em sucessão. A agrofloresta tem atraído principalmente jovens, o que é um alento para os mais velhos, mas traz o desafio de gerar renda compatível com pessoas no início da vida adulta. Combinar os tempos da agricultura e da necessidade de renda é um desafio, mas temos vistos com bons olhos em particular um grupo deles que forma um Empreendimento de Economia Solidária (EES) e vem prestando serviço de ativação de áreas pouco produtivas, em troca de participação nas vendas, como o clássico esquema de meia que ocorre no meio rural.

Para quem pratica a agricultura urbana, não basta considerar seu pedaço de terra, é preciso entender que de uma certa maneira a própria cidade faz parte da produção: seja pela produção de insumos como a palha e os restos de poda, a compostagem, seja pela própria posse da terra que vem por vias institucionais na maioria dos casos. Se o acesso do consumidor é facilitado porque faz parte da vizinhança, há também limitações do que pode ser plantado e das estruturas que podem compor a horta.

Os agricultores urbanos acreditam em sua prática e tem feito grandes esforços para aperfeiçoar suas técnicas e transmitir sua experiência aos mais jovens. Nos últimos anos, surgiu um movimento social forte de agroecologia na cidade, mas precisamos reconhecer que na associação tratamos de agricultura profissional, ou melhor, de agricultura familiar urbana, modalidade ainda pouco reconhecida e que sofre algum preconceito por quem está mais distante.

Com a esperança de levar produtos saudáveis para nossas famílias e para a população estamos nos organizando melhor para atender mais agricultores e nos fixar como referência na zona leste, que precisa de mais áreas verdes, solo permeável e a extinção do uso de agrotóxicos.